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Mostrando postagens de 2010

Adeus

Ouça-me! EU VOU EMBORA! E quando já estiver desaparecendo no firmamento Confundido entre as linhas turvas do horizonte sem fim Lembre-se do sorriso alegre no meu olhar distraído Quando você piscar, já estarei noutro lugar Possivelmente mais contente e mais feliz!

Pescaria

Lua cheia, mata cheia Uma pinga, um facão Meia-noite, noite límpida Uma isca, um violão O rio desce com força e correnteza Um silêncio permeia o ar e me apraz No rosto, desenho um sorriso travesso O rio segue o riso em seu leito voraz Sentado na beira da proa Erguendo o velho caniço de ponta quebrada Com um pedaço de linha mal amarrada E com pés molhados, imersos, à toa Assisto alheio o angu desmanchar na água Ensaiando assim uma pescaria mal amanhada Para a febre das piabas Minha atenção descançava noutro lugar. Lá!... Sobre o afago das ondulações No mistério camuflado na profundeza Sob o manto cintilante estrelado Onde a luz que persevera Ao incidir na imensidão A perder-se em linha reta Vi essência e vi beleza De todas essas incertezas Que me perturbam a imaginação Na constância do tapete fluvial Um grande ponto de interrogação E o peixe, que nada sabe sobre isso Interrompe minha pesca Ao desfisgá-lo, escorrega E cai da minha mão... Aí me vem frus

Amarado

Avante à vida! Afronte! Atento ao inconseqüente Feliz pelo desconhecido Do porvir infindo, contente Avante e sempre em frente Sigo parvo ao horizonte turvo Das terras firmes, indiferente Com olhar fixo adentro, resoluto Avante e sempre além! Um passo para estar alhures Adiante para não estar mais aqui Sempre algures e acolá Algum dia enfim ei de chegar

Religare

Entre dois abismos Duas profundidades Uma longa subida após Um inevitável declínio Uma eterna busca Um lugar prometido Sentidos dispersos Que pouco se entendem E muito se comunicam Ligados por um fino fio, perpetuo, indistinto São entes preciosos separados à princípio Um mesmo ser, unívoco e homogêneo Apenas para o privilégio daqueles Afortunados que assim os sentem: Juntos.

Metafísica

Poesia é som que ecoa adentro É a voz que brada forte e grita Não toma proporções tangíveis Afora, jamais se materializa Não quer transformar-se em ondas Para fatalmente minguar-se em física Existe feito o vento brando, leve brisa... Sopro repentino de inspiração e sentimento Como todo advento estranho, desconhecido Onipresença real inegavelmente sentida Opaca à ignorância dos céticos e cínicos Temida por sua serenidade excêntrica e convicta Certa apenas para aqueles que nela acreditam Esses afortunados, execrados, proscritos Detentores de fé invejável que ficam, fincam o pé E em sua crença fitam seu olhar autista, paralítico Poesia é representação ilógica desta proposta infinda Nunca pretende vir a ser para perdurar na busca exaustiva É a forma ideal, final, mas inconclusiva É a melhor maneira de se encarnar a vida

Prévia da capa do livro Todos os Sentidos

Já está quase tudo pronto para a publicação do meu segundo livro - Todos os Sentidos . Ele será lançado em parceria com a editora Biblioteca24x7 Seven System International , localizada na cidade de São Paulo, e amigos. Dentre estas pessoas, quero agradecer especialmente à Jhanifer Susan I. de Oliveira, pintora e escritora, também publicada pelo concurso Ministério da Poesia 2009, com o livro Insolicitudes teve a gentileza de colaborar com o quadro ao lado exclusivamente para capa do meu livro. Outros trabalhos de Susan no seu blog http://www.meninadepoa.blogspot.com/ Obrigado Susan Bjo ;-)

Gosta de mim

-Gosta de mim! Está tudo tão claro Está tudo tão certo... Não haverá o próximo segundo Após o seu segundo gesto, juntos Em momentos sublimes, repletos de silêncio oportuno Abraços apertados, olhares estáticos, mútuos Dedos emaranhados, confusos, aconchego Rostos colados, carinhos e afetos. Entremeio esse tempo difuso e imersível Flutuamos livres, absortos, absolvidos Desapercebidos, desavisados, atentos somente Às palavras deixadas no vento, ao léu, cravadas no caule Das árvores, pinchadas nos muros das cidades Descidas das nuvens do céu da boca Caindo como chuva doce no hálito quente Pousando obliquamente ao pé do ouvido Tímidas, reticentes dos movimentos sentidos Nos sorrisos singelos dos lábios umedecidos Línguas traduzidas em atos e medidas Discretas, sutis, exatas de bom senso (...) -Gosta de mim!

Hein!?

Quando nasci Um relógio marcava meu tempo Quando cresci Uma moeda media meu contentamento Mas padeço distraído por displicência Vou amadurecendo ignorante e burro Quando morrer Um pálido enterro seguirá pela rua erma Um caixão vazio se enterrará em descrença E minh'alma andarilha ainda a verás por aí Repleta de sorrisos e livre por inocência!

Para ver a chuva cair

Eu vivo a noite como a noite vive em mim Pintada de serenidade azul escura Condensada de brilhos cintilantes Mergulhada em profundidade sem fim Eu vivo o dia como o dia vive em mim Iluminado de força plena e intensa Pintado de um azul claro que cega Rebuscando os mais olvidos pensamentos Eu vivo a tarde como a tarde vive em mim Preguiçosa, vagarosa e displicente... Pálido azul farto caindo para amarelo-alaranjado Descrente da ausência de espírito de toda gente Mas quando a chuva cai Pode ser matutina, vespertina ou noturna Uma pausa o universo faz Para ver cair a chuva. Hora de lavar a alma Das lembranças taciturnas

O Sorriso da Saída

Um sorriso na saída Tristeza na despedida Uma forte intuição... Talvez fosse a última O medo de mais nunca Nunca mais ver aquela feição Um segundo de alegria Um momento de sinergia Um instante de introspecção Aquela era a hora Para uma nova aurora Em vidas de escuridão Como pode num sorriso Como um milagre acontecido Tanta esperança na hora da separação?

O Norte da Vida

A chuva passou A alegria morreu A esperança secou Levado por um caminho ínvio A um ambiente inóspito Onde o solo estéril Produz um frio fervor Padeço à porta de minh'alma - E agora sozinho nesse sertão? Sem um poço de esperança Nenhum pé-de-alegria cresce Sem verstigio de vida Nenhuma alma penada pena Entro então... Só saio quando aquela chuva Voltar a regar meu coração...

Supernova

O universo expande Galáxias se fundem Planetas colidem Estrelas explodem Planeta dissolvem O universo comprime... O tempo dispersa no indistinto Independente de mim, eventos contíguos Afetam minha humilde natureza de indivíduo Perplexo pela grandeza do desconhecido Refugio-me na insignificância dos sentidos Abstido da mera tentativa de conceber O que "EU" algum dia poderia vir a ser

Nós

Somos nós Pontos distantes contíguos Unidos no mesmo sistema planetário Somos nós Brilhos longíguos sozinhos Quais, por ventura, juntos nos tornamos sóis Somos sóis Girando em torno de si próprios Em movimentos cíclicos inofensivos S.O.S! Somos sós Carentes dos seres seguintes Para substancialmente nos tornarmos nós Socorro! Estamos soltos Perdidos, espalhados pelo mundo Procurando plural para nos tornarmos uno Sois vós Os próximos mais próximos Com quem espero contar Estamos ligados e isto basta O acalento da vossa presença É o amparo para essa forte falta “Voz” sois Resposta ao solitário pedido Sussurrado ao pé do ouvido Que avisa-nos de iminente colisão Escutai! Atendei à todos aflitos... Somos vítimas do hábito da mútua atração Somos sim! Laços imaginários apertados Impossíveis de serem desatados

Passageiro

Acompanhar o tempo? Não... Deixa o tempo ir... Não tenho ânimo pra segui-lo Por isso deixo-me consentir Imparcialmente assisto-o passar Sem nunca me interessar saber Se sou eu quem se esconde dele Ou é se ele quem escapa de mim Trespassado fico por aqui Continuo o mesmo de quando nasci Aprendendo desprendido do tempo Como a vida é... desapegada de mim

Frágil abrigo

Venho abaixo consumido em chamas Por dentro, enquanto cauterizo em dor Minh ’alma, pela paz encandeada, reclama O corpo desfaz-se na fragilidade humana A carne desmancha em algo que a revele Eis o momento que verdade vem à tona Atendendo de prontidão as minhas preces Meus olhos abertos ao céu emanam O brilho esvaído da dor descomunal Expondo, enfim, com clareza insana Toda esta inconsistência material

Despertar Letárgico

Abre teus olhos...Acorda! Pousa teus pés descalços no chão gelado Aterrissa na tepidez da realidade palpável E com um olhar ameno de brilho apagado Observe a inércia da parede à frente Encare e aceite tal semelhança inegável Abre teus olhos...Levanta! Suspende tua carcaça cansada Castigada pela leveza da cama Erga tuas pálpebras pesadas Até metade dos olhos apenas Metaboliza tuas vísceras viciadas Em desvirtuar idéias pequenas Não pense, seja razoável Acolha alheias razões Contemple no cotidiano Minucioso é o cálculo Perniciosas, equações Ressurja mesmo que seja tarde Ainda que a esperança se acabe Insurja controverso e desobediente Contra-costume, contra-praxe Respire! Ensaie tua sorte Expire antigos ares Inspire versos fortes Aspire às tempestades Que guiam o vento norte Esperte! Extirpa a miséria sem misericórdia Entorna, em tuas lágrimas, teu anseio Afoga a compaixão que te comporta Enxuga o choro áspero de veneno Abre teus olhos e veja! Hibe

Caderno-revista 7FACES

Amigos, já se encontra disponível para baixar a segunda edição do Caderno-revista 7Faces onde tive a oportunidade de publicar, junto com outros autores, poemas inéditos. Abraço

Desconfio

Acredito no caos dinâmico e justo Acredito no abstrato espontâneo e belo Duvido da estática do que é concreto Frio, indiferente, imediatamente certo Tudo do jeito que está Está como era pra ser Como era pra ser tudo? Irrevogável destino... Sei daquilo que creio Acredito naquilo sinto Vasto vão, eterno conflito Entre o que, de fato, existe E aquilo que, na verdade, sinto Tudo tão misterioso, tudo tão impreciso Tudo tão errático que, às vezes... Às vezes, até da dúvida desconfio

Déspota

Se me concebo aqui dentro Nesta cápsula universal Posso ser grande e pequeno A partir do ponto referencial Difícil, pra mim, é acreditar Num espaço que se expande Um ponto fixo, outro flutuante E cada homem, sendo homem Um pequeno, outro grande Não somos nós iguais, irmão Somos do mesmo tamanho Entre os vícius e as virtudes Partilhamos os mesmos erros Distintos pela nobreza de atitude Se fosse normal Seria, eu, superior Mas o que seria normal A partir do ponto referencial?

Tempo Perdido

Que importa o tempo perdido? Se não sabemos onde começa Se não sabemos onde termina Um instante, uma era, um infinito Pouco importa no tempo perdido Tanto fez... Tudo que deixei para trás Continua por mim esquecido Aquilo que está no passado Permanece, no tempo, perdido

Planos

Se a vida foi presente recente Que era e continua sendo Preciso juntar os últimos resquícios de esperança Elaborar uma estratégia, montar um projeto E fazer planos pra, no mais tardar Daqui a pouco

Ator Peregrino

Quem sou eu na verdade? Sou a ânsia do ser Sem de fato nunca vir a sê-lo Sou um ator peregrino Andarilho dos campos do desespero Atuante nos palcos divinos Da trágica comédia humana Das tribos sociais Vagueio feito retirante Pelos terrenos culturais Sou ator gafanhoto Estudo seu comportamento Decoro seus padrões Me habituo aos seus gostos Incorporo seus trejeitos Consumo seus valores Sou aceito como membro Participo de seus rituais Traço e coleciono Todos os perfis individuais Sou um ator peregrino Figurante dos palcos divinos Redutos de escravos sociais Quem sou eu pra dizer? Sou apenas a ânsia do ser Sem de fato nunca vir a sê-lo Sou escravo de mim mesmo Protelo de minha volição Proíbo-me terminantemente de me adaptar Quem sou eu pra falar? Não sou daqui, não sou de acolá Não tomo parte, nem me deixo levar Estou de passagem, vou sem bagagem Qualquer antro sujo pode ser meu lar Sou apenas um ator peregrino Saltimbanco do teatro divino Me disponho, me visto e me divirto Do vasto figuri

Felicidade passeia...

Assim de repente a alegria voltou... Acostumei acreditar que ela aqui morava Mas ela apenas por aqui passava Perambulando pelas redondezas Na liberdade que só ela traz Trouxe fôlego, coragem e leveza Trouxe paz... Visitante inquieta e egocêntrica Dissoluta, intempestiva e fugaz Assim é minha felicidade, alheia De vez em quando, enquanto quer Minh'alma, ao improviso, desnorteia Prisioneira de sua mercê Escrava de sua arbitrariedade Sem prévio aviso e rotineira Sou, eu, mero espectador Enquanto minha felicidade passeia

Toda velocidade à frente

Sigamos em frente! Mesmo que não saibamos aonde vamos Mesmo que à frente haja um abismo e nele caiamos Mesmo que ele seja tão profundo que caiamos eternamente. Quem sabe, em meio ao desespero da queda O medo cesse lentamente E assim, pairando no ar de tal forma Livres de nossos pesos Errabundos que somos Esqueçamos da queda, do abismo, do fundo (Já não estaríamos caindo mais...) Isentos dos devaneios dos pensamentos Ao vão do silêncio, do tudo, do nada Ao vento que, em nosso rosto, bate brandamente Quem sabe, finalmente descubramos Ou, pelos menos, nos rendemos e aceitamos Essa verdade tão clara e agradável quanto iminente Talvez seja esta mesmo nossa única forma de voar... Mas e se o fundo não for tão profundo? Ora! O que é a vida afinal senão um caminho rumo à morte? E o que é a morte afinal senão uma passagem para algum lugar desconhecido Mesmo que esse lugar seja simplesmente o nada?... Quem sabe!... Quem saberá?...

Poetas, cientistas, náufragos

Tristeza é fenômeno de ser humano. Poesia é ímpeto inerente Do espírito endiabrado Da insatisfação inquieta Sobrepujante, sobrevivente Que supre ciência Dissolve doutores em cobaias E tenta desbravar melancolia. Quantos poetas perdidos por aí... Quantas almas profundas, submersas Naufragosas em si... Quantos trocadilhos perdidos em babel Quanto silêncio despendido no papel... Da vida, talvez, uma única descoberta O melhor seja viver E poetizar sobre a vida...

Osmótico

Despeja essa solidão em mim Desagua! Já não a sinto tão amarga Mas tempero que exalta, iguala Melhora! Meu paladar de antes Aos sabores de agora. Submerge! Preenche seus poros Permeia minha pele Inunda! Meus sentidos, absorve Minha mente, entorpece Meu coração, apodrece Minha angústia, mastiga Minha alma, digere Toda essa substância moribunda

Sem amor e sem pecado

O que espera você de mim? Já não quero convencer Já não quero seduzir Esteja convencida Estejamos quites Deixemos o jogo de lado Maçante e deprimente Nos percamos sem pecado Num antro qualquer indiferente Embevecidos em êxtase recíproco Amotinados e dissidentes Enfastiados um do outro Abobalhados e sorridentes Felizes pela indecência do ato Absortos num instante de silêncio Recordemos de onde escapamos Libertos em nosso quarto pequeno Parceiros de revelia Companheiros de fuga Nada nos devemos. Sem nos querer Mais do que já nos temos Que se consuma o mundo lá fora Enquanto nos consumamos aqui dentro

Fortuitamente

Ainda te vejo... Não obstante, longe No alto, ascendente Contínua em minha órbita Fortuitamente... Ainda te vejo... Feito quem aguarda Consubstancialmente Guardo no imaginário Seu desenho tracejado Ainda te vejo... E quase posso tocar Nas cores e texturas As nuances de cada gesto O contorno de cada olhar Acentuado no seu rosto Em cada sorriso a ressaltar Ainda te vejo... Em cada vertígio deixado De algo tão desejado Como quem está aquém Do mesmo "algo" inalcançavel Ainda te vejo... Inoportunamente Com certo despeito Num lapso, num lampejo Ciente que nada sentes Ainda assim te desejo... Solitário é o sonho Infeliz é o sentimento Longíngua é sua imagem Que assim cabisbaixo Ainda relembro...

Um ponto de eternidade

Enquanto seu cabelo me cobrir Enquanto seu cheiro me perfumar Cada minuto será um sonho A se realizar... Enquanto você sorrir Enquanto me beijar E sorrir e beijar... Ao mesmo tempo, impensado Será teu, meu tempo, meu espaço Todo momento, em todo lugar... Você é um instante fora daqui Fora da circunfluência sem fim Um ponto que me tange Num ponto de eternidade

Urubu-rei

Numa manhã de sol e céu azul Pairava no ar uma ilustre figura O grande, feio e fedorento urubu Supremo, plainava suspenso Na larga envergadura de suas asas Soberano, brincava com vento Ensombrando a terra como podia Acima, lá fora, ele, absoluto. Abaixo, aqui dentro, nós Seres que somos "únicos" Seres que somos "especiais" Nós que temos "tudo" Mas não temos asas