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Mostrando postagens de novembro, 2012

Pulvi es(et pulverem reverteris)

-Veja! -Me olha, me inveja, me copia! Enquanto a humanidade se enfuna do seu próprio ego Num grotesco festival de abastardamento e autofagia Esquecemos as adversidades com sabores diversos Babando na mesa com a voracidade ensandecida Bobos e extasiados com versatilidade do menu Com tola infantilidade de por na boca o que na mão possui Devoramos a vermelhidão suculenta da carne Tão charmosa, tão gostosa, irresistível, irrecusável! Levados pelos prazeres óbvios, obscenos, imediatos Escravizados pela alternativa efémera, fácil, fugaz Padecemos do hábito irremediável de ser humano Completamente falível, alheio, perdido, vulnerável Certamente, um dia, tudo estará arruinado. Da inevitável decadência, ninguém escapa! No final iremos todos juntos para o inferno Com a boca suja de diamante, ouro e prata Lambuzados, felizes, sorridentes de mãos dadas Lavaremos nossas almas putrefatas Na frieza da fogueira mais ingrata! Aquela que não discrimina, nem vê nada Que assim sej

O Desejo da Puta

A puta observa o dinheiro deixado na penteadeira Ela fixa o olhar com certeza de que está tudo ali Mas com a desconfiança vazia de lhe faltar algo... Ela vê o conserto da goteira do seu quarto fétido Um novo vestido,maquiagem, novos lençóis e cortinas O arroz e o feijão, fralda e leite ninho para o menino Que chora ao pé da cama recém-usada, alheio ao destino “O que será? Eu contei errado?” -pensa ela Tomada por uma mágoa mórbida, ela descobre Está tudo ali: a sobrevivência de um novo dia. Faltava-lhe apenas a vontade de viver um outro dia...