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Anticorpo

É... Tenho esse defeito
Carrego na face a fleuma
De andar por aí sem defesa
Sinto cólera, culpa, despeito
Desânimo, ódio, desespero
Mas também sinto vergonha
Disto não tenho medo

Por vezes perco a fé em mim mesmo
Eu sei quem eu sou
Mas as vezes me esqueço
Das minhas fraquezas, porém
Não me eximo nem me isento
Nem disto nem d’outras vilezas

Essa mesma cara que ri
Desaba e lamenta
A mesma cara que chora
Demonstra esperança
A mesma cara que espera
Esboça descrença
É! Eu tenho esse problema

A impecável postura dos mentirosos
Não me cai muito bem. Não sustento ...
Entre os anfitriões da falsa nobreza
Tropeço nas minhas infâmias
Minha educação nunca foi a etiqueta
Exponho desgosto e desavença
Ponderar o discurso, não consigo
Me escapa o que penso
Berro injúrias, cuspo ofensas
Tristeza saber que é sempre inútil
Mas é minha natureza

Ingiro mentiras pelos poros
Mais tristemente, as minhas
Contamino, adoeço, não durmo
Digiro até expelir por inteiro
Este ser estranho, inoportuno

Meu mal-estar, não disfarço bem
Dissimular é arte que não possuo
Deus que me proteja e acuda
Pois ando por aí sem escudo

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