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A vida do rio

Em suas águas
Seguem inundadas
As mágoas da população ribeirinha
Fica com ele, em seu curso
O olhar perdido, o pensamento longe
O lado mais íntimo, mais obscuro
Sofrimento de outras e outras sinas
Coisas que já não pode carregar

Enquanto passeia sob meus olhos
Tento infamemente apronfundar, resgatar
Tirar de suas águas anoitecidas
O que é segredo confiado
E nele perecerá...

Sangra, meu amigo ferido!
Sangra seu destino em veia única
Levando a desembocar o desconsolo
Abrindo caminho para o imcompreendido
De sonhos e ideais não conseguidos
Alimentados, cultivados e supridos
Pagos com brio
À vida do rio.

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