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Boneco de Pano

Vazio é seu peito
Inexpressivos, seus olhos de botão
Costurada é sua boca
Inertes, seus membros de algodão

Se pensas sentires algo
É que enganas a ti mesmo
És vítima da própria essência
Isenta do efeito humano do ímpeto
Imune a sua voraz inconseqüência

Se pensas sentires vivo
Mentes desesperadamente
Pois, tu sabes, és ninguém
Salvo mero vulto da idéia de outrem

Pereces encostado num canto
Sem sangue, sem veia nem pulsação
Paralítico, largado, jaz esquecido
Longínquo ao sopro divino da paixão

Da tua mórbida presença, pouco fazem
Por ti, passam feito sujeira na passagem
Ninguém desconfia tamanha vaidade
Ficas ali, ao relento, fora da embalagem

Não sentes ódio nem sentes amor
Não sentes culpa nem sentes dor
Quão mais complexo é o carma
Do ser vivente, errante e sofredor

Comentários

  1. As vezes me sinto esse boneco de pano. Sniff

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  2. Seus poemas parecem um pouco melancólicos, outros parecem apixonados. Eles expressam alguma coisa de você? Fiquei curiosa.

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  3. Só esqueci de dizer que, melancólicos ou não, seus poemas são lindos. Alguns conseguem extrair um pouco daquilo que fica preso dentro de nós e que não conseguimos expressar. Expoem um pouco das gritos internos. Do conflito entre os nossos "eus". Parabéns. Gosto muito do que você escreve.

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  4. Olá, "Anônimo"

    obrigado pelos comentários. E sim, expressam sim alguma coisa de mim! É minha parte curiosa com a obscuridade do ser humano que acho interessante.

    vlw

    bjo

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  5. Preciso confessar que você ganhou uma admiradora.

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