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Excentricidade

Se, porventura, eu enloquecesse
Sendo louco logo abandonaria
O sentido habitual da palavra.
Ao "sem sentido", empregaria
O legítimo âmago do significado

Se, por acaso, eu enlouquecesse
Atingiria um degrau acima do insensato
Onde até os loucos atuais balbuciam
Desnorteados pela altura inalcansável
Trepidam por não se saberem soltos
Ora! Olhe de cima pra baixo e vede
Quem é pra ser, que, de fato, sede

Se, na imprudência, aventurasse
Quereria ir além e sempre mais
Obstinado pela natureza do absurdo
Consumado pelo desejo contumaz.
A conjuntura do todo seria pouco
Pra quando me intitulasse louco

Costumávamos ser todos loucos
Mas a covardia educou-nos a alma
A insanidade padece enclausurada
Sufoca numa casca espessa e polida
Abafou-se a voz veemente intrínseca
Que contudentemente gritava e feria
Mais alto que todas as razões da vida

Esses loucos de hoje em dia...
Já não deliram mais sozinhos
Não conversam mais consigo
Perambulam meticulosamente
Domados, amestrados, mesquinhos
Por um único e aberto caminho
 

Mitigou-se os antigos ímpetos
Morreu, a loucura inerente
Nada de mais puro existe
De livre, espontâneo e inocente...

Comentários

  1. ..."Se, por acaso, eu enlouquecesse
    Atingiria um degrau acima do insensato".
    Atualmente, há momentos em que torna-se necessário atingir esse degrau.

    Parabéns, poeta!
    Um abraço

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