Pular para o conteúdo principal

Meu real abstrato



Meu real é abstrato
Minha verdade é relativa
Maleável, resiliente, expansiva.
Acredito em Deus
Como acredito na vida
Disforme, inodora, insípida.

Acredito no caos.
Acredito no imoral, no amoral, no imortal.
Sem saber aonde vou, se vou chegar
Passeio pelo acaso que rege
Aquém da crença fanática
Além da concepção herege
Do invisível, do sobrenatural, do paranormal.

Relapso por princípio, por natureza, por instinto
Perco-me por caminhos desnexos
Com desleixo de quem não quer encontrar.
Trafego pelos becos mais abandonados e esquecidos
Escuros, macabros e arredios
Sigo sem traçado indiferentes trajetórias
Entupindo brechas, tapando saídas
Devaneando, com destreza, nas vias da vil filosofia
Congestionando, de bom senso, inteira avenida...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Anticorpo

É... Tenho esse defeito Carrego na face a fleuma De andar por aí sem defesa Sinto cólera, culpa, despeito Desânimo, ódio, desespero Mas também sinto vergonha Disto não tenho medo Por vezes perco a fé em mim mesmo Eu sei quem eu sou Mas as vezes me esqueço Das minhas fraquezas, porém Não me eximo nem me isento Nem disto nem d’outras vilezas Essa mesma cara que ri Desaba e lamenta A mesma cara que chora Demonstra esperança A mesma cara que espera Esboça descrença É! Eu tenho esse problema A impecável postura dos mentirosos Não me cai muito bem. Não sustento ... Entre os anfitriões da falsa nobreza Tropeço nas minhas infâmias Minha educação nunca foi a etiqueta Exponho desgosto e desavença Ponderar o discurso, não consigo Me escapa o que penso Berro injúrias, cuspo ofensas Tristeza saber que é sempre inútil Mas é minha natureza Ingiro mentiras pelos poros Mais tristemente, as minhas Contamino, adoeço, não durmo Digiro até expelir por inteiro Este ser estranho, inoportuno Meu mal...

O Desejo da Puta

A puta observa o dinheiro deixado na penteadeira Ela fixa o olhar com certeza de que está tudo ali Mas com a desconfiança vazia de lhe faltar algo... Ela vê o conserto da goteira do seu quarto fétido Um novo vestido,maquiagem, novos lençóis e cortinas O arroz e o feijão, fralda e leite ninho para o menino Que chora ao pé da cama recém-usada, alheio ao destino “O que será? Eu contei errado?” -pensa ela Tomada por uma mágoa mórbida, ela descobre Está tudo ali: a sobrevivência de um novo dia. Faltava-lhe apenas a vontade de viver um outro dia...

Caravana

É grande o peso que carrego? Não importa. Se tiver que levar, eu levo Se não conseguir andar, arrasto Se, de repente, cansar, eu paro Mil anos parado, aguardo... Enquanto há fôlego, há pulso Mesmo parado, prostrado Eu continuo! Grande é o peso que carrego... Se tiver terra onde errar, eu erro Se tiver pecado pra pecar, eu peco Se não puder falar, escrevo Se estiver escrito, apago Se não puder escrever, eu penso Mesmo que seja proibido Se tiver que fazer, eu faço! O peso é grande, mas eu o carrego... Carrego porque sou levado Pois algum dia, quem sabe, levanto Levanto porque sou erguido Erguido pela força de mil braços Clamor ao céu leva o suplício Mil gritos urgem atrás dos tímpanos “Continua…” Continua porque a vida não é minha Ela quem nasce, cresce e caminha Caminha porque me é alheia Força que Deus provê e determina Eu, apenas, um acidente na areia Continuo porque é minha sina Uivando, gemendo, pedindo Levado porque a natureza quer e precisa ...